14 setembro, 2006

Comentários Ontológicos Sobre a Existência de Deus Na Perspectiva de Anselmo

Num silogismo envolto à uma profunda análise metafísica embasado na racionalidade humana, Anselmo inicia sua busca argumentativa no anseio de encontrar um único argumento que valide, “em si e por si”, capaz de demonstrar que Deus existe verdadeiramente e que ele é o bem supremo; quando ao contrário, todos os seres dependem dEle para existirem e serem bons[1].
Entretanto, na tentativa de encontrar um argumento sólido como prova adequada naquilo que cremos acerca da substância Divina, à luz de Anselmo, esbarramos no não translúcido de nossa entenebrecida mente humana. Como num lapso, “justamente no calor do conflito de pensamentos”, em paráfrase à nossa humanidade, assim como a de Anselmo, somos levados a uma sublimação do ser através de um estado elevado da mente até a contemplação de Deus - num lampejo de fé fundamentado na razão. O que analogísticamente em um estado humano de pós-queda seria inconcebível tal vislumbre sem uma transcendência.
Na nossa insipiência, por conseguinte, devemos convir que nada podemos pensar de maior além do inteligível. Assim sendo, “o ser do qual não é possível pensar nada maior”, é tão real quanto a nossa racionalidade. Basta só seguir uma simpleza lógica, da qual não poderia existir nenhum ser menor sem antes existir um maior, e que se o menor existe, e este é o insipiente, por conseqüência, o ser maior não cabe e nem pode existir apenas na razão. Logo, “o ser do qual não se pode pensar nada maior” existe, na inteligência e realidade[2].
Deste modo, epistemologicamente por meio de uma dialética entre a razão e a fé, podemos concluir assim como Anselmo, “que não é possível pensar que Deus não existe”[3].
Ancorado nesta idéia, Anselmo em mais uma de suas assertivas de que lhes são peculiares, ao afirmar que a possibilidade de pensarmos na existência de um ser que não admite ser pensado como não existente, já defronta nossa inteligência com a realidade. Ou seja, a realidade não cabe no nosso embaciado pensamento, o que nos remete indubitavelmente a este “ser do qual não é possível pensar nada maior”; e existe de tal forma, que nem sequer é admitido pensá-lo como não existente[4]. Este é o nosso Criador e Soberano Senhor.
Em palavras rebuscadas de ontologia, Anselmo agora num magistral diálogo com Deus, põe-se nos limítrofes humanos - reconhecendo seu estado de criatura diante do Criador. O contrário disto seria uma aberrância de um delírio da criação, o que já seria inimaginável.
De fato, na nossa inépcia humanidade decaída, não podemos dizer em nosso coração aquilo que nem sequer é possível pensar. E se dizemos, logo pensamos, e se pensamos nos valemos de fundamentos lógicos convencionados por nossa mera racionalidade. Ora, diante disto, a realidade passa a ser ilógica, pois a mesma é infinita e desconectada dos fundamentos da razão. Abrindo um rápido parêntese, isto nos remete a um pouco de Immanuel Kant em uma de suas abordagens sobre o idealismo transcendental[5].
Anselmo usando sua retórica inquisitiva, num ato de reconhecimento, agradece a Deus pelo dom da fé, que com a luz da razão nos faz compreender e admitir racionalmente a Sua existência.
Portanto, ao buscarmos apoiar a fé na razão, desembocamos em ume estado transcendente que nos leva ao escopo da fé oriunda da imanência de Deus em nós. No qual não é possível pensar nada maior do que aquilo que Ele nos leva a alcançar pelos seus atributos Divinos[6]; os quais o fazem um ser ilógico diante da lógica humana. Logo necessitamos desesperadamente de sua luz, isto é, da Substância Divina imanente em nosso ser. Se não fosse o fator imanente da Sua presença, não existiria amor real. Pois este, inexoravelmente foi manifestado de forma corpórea no homem através da encarnação, morte, e ressurreição de Jesus Cristo[7]. Este fato é mais uma prova inconteste da Supremacia e Onipotência da realidade existencial de um Deus que é o “Pai da Eternidade” e o começo e o fim de todas as coisas. Em suma, como diria Anselmo, “Sua imensidade é indeterminável”[8].
[1] Proêmio, pág. 97
[2] Capítulo II, pág. 102
[3] Capítulo III, pág. 103
[4] Capítulo III, pág. 103
[5] Crítica da Razão Pura, Immanuel Kant
[6] Capítulos V, VI e VII
[7] Capítulos IX, X , XI e XII
[8] Capítulo XXI

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