21 abril, 2009

Qual a relevância de um novo paradigma missionário com ênfase na justiça e no amor?

A missão a partir de um novo paradigma com ênfase na justiça e no amor, deve inexoravelmente passar pelo crivo de um caráter integral. Isto é: buscando uma transformação na relação do homem e Deus dentro da realidade na qual ele vive e convive com seus semelhantes, sem, contudo, mudá-la de forma preconceituosa tendo como parâmetro outra realidade fora do contexto local.

Um exemplo disso são alguns missionários que ao ir a outras culturas se preocupam mais (mesmo que de modo indireto) em implantar a sua “cultura igrejeira” de origem do que mesmo levar o Deus verdadeiro aquela cultura local. Assim sendo, limitam Deus a uma visão às vezes apenas denominacionalista que restringe o Evangelho de Cristo numa visão meramente humana, presunçosa e muitas vezes até legalista.

Portanto, se temos que relevar um novo paradigma missionário enfatizando a justiça e o amor, devemos antes viver a práxis do caráter de Jesus de maneira integral em meio à sociedade e as diversas culturas do mundo, destruindo por conseqüência seus pontos malignos e restaurando os benignos das culturas através do Evangelho integral de Cristo.

O grande entrave ao meu ver hoje, reside no ponto onde a Igreja deve ser o referencial ético e efetivo da proclamação do Evangelho em meio aos cidadãos deste mundo; mas a prática disto está cada vez mais distante. Pois muitas denominações que se dizem evangélicas e/ou cristãs em vez de tornarem públicas a sua fé, a tornam privativas em torno de objetivos as vezes até egoístas.

Aí você pergunta: Mas temos tantos programas e tvs evangélicas hoje como nunca tivemos no passado....não é esta uma fé evangélica pública?

Seria; se o Jesus pregado não fosse "padronizado" de acordo com a visão privativa ou particular de algumas denominações que parecem mais está vendendo um produto institucional criado por homens do que mesmo proclamando uma fé genuinamente evangélica.

Assim sendo, diante desta realidade exposta, um novo paradigma missionário com ênfase na justiça e no amor é urgentemente por demais relevante. Entretanto, só será possível quando a Igreja de Jesus na América Latina e no Brasil unirem-se em torno de um evangelho sem barreiras e picuinhas denominacionais.

15 março, 2009

Como estabelecer uma relação entre a missio Dei e a globalização religiosa brasileira?

A Igreja católica romana e evangélica brasileira parece ainda carregar um legado “cultural”, deixado inicialmente por missionários do primeiro mundo. Quando aqui aportaram trouxeram junto consigo sua cultura religiosa contendo costumes, tradições e formas comportamentais da sua terra de origem.

Parece que isso gerou com o passar do tempo uma espécie de subcultura religiosa, que com o passar dos anos tornou-se fragilizada e fragmentada. Não obstante a esta realidade, algumas denominações evangélicas e católicas buscam mesmo assim, manter ainda em pleno século XXI sua identidade focada nos seus fundadores de outrora; (a maioria deles foram missionários que vieram da Europa e América do norte a mais de cem anos atrás, no caso da católica a mais de trezentos anos).
Muitas destas denominações evangélicas e católicas, além de manterem sua posição inflexível de não buscar reformar ou atualizar sua teologia engessada há anos, ainda exportam sua teologia e tradição através de pacotes “missionários” para muitos países de um mundo já globalizado.

Sob esse prisma, observo como se deteriorou o verdadeiro sentido da missio Dei na atual conjuntura religiosa brasileira. Tendo em vista que atualmente embora haja o esforço de algumas agências missionárias interdenominacionais em quebrar paradigmas, podemos ver por outro lado uma diversidade de denominações que disputam entre si métodos próprios e individualistas de propagarem cada qual o seu “evangelho” pelo mundo. Isto é, são “Igrejas matrizes” que enviam missionários para implantarem “Igrejas filiais” em outros povos. Estes missionários ao serem enviados, às vezes sem um devido treinamento acabam invadindo culturas por assim dizer; pois tentam em primeiro lugar implantar a denominação em si (com seu “sistema” e “cultura” própria) nestes lugares, e não o Evangelho integral de Cristo.

Deste modo, sob um foco sociológico da realidade do mundo em que vivemos hoje, parece que tanto a Igreja Evangélica e católica brasileira continua repetindo os mesmos procedimentos dos primeiros missionários que vieram ao Brasil. Ou seja, faz-se o caminho de volta com o envio de seus missionários “treinados” na maioria deles dentro de seus respectivos arcabouços denominacionais carregados de dogmas e tradições humanas. Assim fazendo, busca-se uma evangelização enrijecida pelo tempo e que paradoxalmente se distancia do homem. Tudo isto por ignorarem a dinâmica da história que reflete neste início de século no comportamento de uma sociedade que a cada dia torna-se mais moderna, globalizada e desencantada; com uma religião sem magia e cada vez mais desvinculada de sua prática.

Por conseguinte, observo que a missio Dei no Brasil de hoje parece ter sido marginalizada dentro deste universo religioso. Parece que muitas Igrejas estão se curvando ao mercado e em vez de fazerem discípulos do Evangelho (a práxis da missio Dei), estão fazendo consumidores da religião.

Portanto, para se estabelecer uma relação entre a missio Dei e a globalização religiosa brasileira, é fundamental em primeiro lugar que se “globalize” a Igreja cristã brasileira em torno de uma unidade centrada em Cristo e não em visões denominacionalistas. Em segundo lugar que se faça por meio da Igreja cristã Brasileira uma re-leitura do evangelho para a realidade sociológica de hoje. Buscando traduzir de forma contextual a linguagem de Cristo para um mundo contemporâneo. Assim formando discípulos com uma cristologia simples, sem ranços denominacionais e teológicos. Reconstruindo uma Igreja consistente e unida nos moldes da Igreja apostólica de Atos.
Deste modo poderemos estabelecer uma relação entre a missio Dei e globalização religiosa brasileira.
Parece utopia, mas não vejo outro caminho a não ser esse.
Notas:
Este post tem como base teórica o texto:
“Globalização, Religião e Missão. Uma análise sociológica da expansão mundial das igrejas
brasileiras evangélicas e católicas” de Eduardo Gabriel da Universidade Federal de
São Carlos, disponível na internet:
http://www.ces.uc.pt/lab2004/inscricao/pdfs/painel14/EDUARDOGABRIEL.pdf