13 março, 2008

Uma Espiritualidade Dicotomista

Quero apenas neste primeiro momento introduzir um assunto que para mim, atualmente, após ter assumido o ministério pastoral, começo a perceber por um prisma mais específico do ponto de vista teológico-pastoral e com mais nitidez um grave problema de espiritualidade no meio dos redutos evangélicos. Pelo que percebo existe uma grave rachadura na construção e visão teológica quanto à práxis da espiritualidade de muitas denominações chamadas de "Igrejas".

Qual seria essa rachadura?


Inicialmente gostaria de chamá-la de "Espiritualidade Dicotomista". Aí vem a pergunta: por que dicotomista?


Poderia chamá-la por outro nome como "espiritualidade dualista", "Espiritualidade ambígua", etc. No entanto, a chamo de dicotomista por entender que atualmente no meio dessas "Igrejas" existe no mínimo um grande equívoco entre a visão eclesiológica e cristológica. Que embora apesar de soarem parecidas, são palavras com significados bem distintos. E o resultado dessa confusão, é que salvo raras exceções, a maioria vive hoje num grande conflito entre ser verdadeiramente cristão ou apenas seguidor de uma determinada denominação.


Por que apenas seguidor de uma determinada denominação? Explico:


Antes de tudo quero esclarecer que não tenho o objetivo aqui de me opor a nenhuma denominação. Até porque pertenço a uma na qual congrego e ajudo a pastorear. Meu único objetivo aqui é pensar junto com você em qual tipo de espiritualidade estamos vivendo no seio de nossas congregações ou denominações cristãs.


Agora voltando e respondendo a pergunta anterior: "Por que apenas ser seguidor de uma determinada denominação?"


É que de acordo com o modus operandi de cada uma delas corre-se um sério risco de inverterem-se valores em nome de Jesus. Por exemplo: a tradição de certa denominação pode ser mais enfatizada e reivindicada em suas reuniões do que mesmo a Bíblia Sagrada.


Claro que isso nunca é admitido. Mas o que se esconde atrás de certos sermões muitas vezes é uma posição mais ideológica e dogmática quanto à "espiritualidade cristã" do que sua práxis.


Na prática são discursos tão hipócritas, que se os fariseus estivessem aqui e os ouvissem teriam inveja.


Porque o fundo disso tudo se baseia às vezes num pretenso moralismo. Queremos pregar um moralismo que se baseia em um "R.I" (não sou contra regimento interno desde que o mesmo esteja de acordo com os princípios cristãos.), e pra isso usamos todos os argumentos possíveis. Inclusive com base até em versículos bíblicos, (geralmente usando textos fora de contexto).


O que quero dizer com isso para concluir esse breve post é que não podemos forjar uma espiritualidade fora da realidade do caráter de Cristo.


Amamos ou odiamos. Somos crentes ou incrédulos. Não dá pra ser meio termo.


E mais...


O pior é que ao negarmos esta sombria realidade acabamos "dicotomizando"no nosso dia-a-dia o tempo todo entre o que é material e espiritual; carnal e espiritual; homem mundano e homem espiritual; meu Deus! Quanta hipocrisia! Ou seria cegueira mesmo?!


É por isso que um monte de gente pra agradar seus pastores obedecem a tradição passada por estes cabalmente. Nem que estas tais por "trás" de seus pastores sejam outros tipos de pessoas com aspirações completamente opostas ao que fingem obedecer diante dos mesmos.


Não quero ser moralista, pois nem que quisesse com todo o meu pretenso senso de justiça humana ainda seria imoral diante de Deus.


Apenas entendo que nossa espiritualidade deve ser seguida no padrão que Cristo nos oferece. Ou seja: embasada numa comunhão intensa com Ele em todas as circunstâncias de vida. Fora disso como diria Bonhoeffer "é viver um espiritualidade abstrata". Em outras palavras: é viver uma falsa espiritualidade que nos levará ao inferno do mesmo jeito ou pior do que os que ainda não provaram do Evangelho de Cristo.


Portanto, só Jesus nos traz a uma realidade sem dicotomias e nos faz justos sim; mas pela Sua justiça, não por nossas sórdidas pretensões de alcançar algum tipo de espiritualidade a luz de nossas obras. Mas pela obra perfeita de Cristo na Cruz do Calvário. Através desta obra, sim; conseguimos pela Sua Maravilhosa Graça viver num mundo reconciliado com Ele. Vivendo uma espiritualidade una, sem ambigüidades entre mundano e mundo, por exemplo; ou material e espiritual.


Por que em Jesus somos seres integrais numa realidade integral proporcionada por Ele.


Só a Deus toda Glória.