05 junho, 2007

HEDONISMO: "O VÍRUS MORTAL QUE ATACA A VERDADEIRA ESPIRITUALIDADE CRISTÃ"

Desejo iniciar com este título uma série de posts sobre uma leitura teológica preocupante e perigosa que tem muito me chamado a atenção nos últimos dias: "O pós-secularismo cristão" ou poderia também chamar vulgarmente como hedonismo cristão; a grande tendência do mundo pós-moderno que está solapando sutilmente a genuína e autêntica fé cristã.

Mas inicialmente para ficar mais claro, desejo abordar com base em dados de estudos sociológicos da religião, alguns fatores preponderantes relacionados ao que vem a ser chamado tecnicamente de pós-secularismo no contexto cristão em que vivemos no atual momento.
No entanto, como o assunto é um tanto denso e sumamente sério no que diz respeito a realidade evangelical atualmente, desejo dividi-lo em partes para que possamos digeri-lo aos poucos, tornando-o relevante para um melhor aprofundamento e compreensão do mesmo.



E para começar bem, embora já tenha postado aqui no blog algum tempo atrás, gostaria de deixar como entrada um sermão de Charles Spurgeon que certamente servirá como texto base de nossos embates daqui para frente no contexto desse assunto.
Antes que alguém me acuse de pietista (não confunda com petista), quero ressaltar em síntese, que o pietismo foi acima de tudo um movimento que lutou pela afirmação da superioridade da fé sobre a razão a partir do XVII. Contudo, busco resgatar uma fé; uma fé não cega para a realidade, mas centrada num entedimento (o Apóstolo Paulo tratou como fé com entedimento) direcionado por Deus por meio de Sua palavra revelada a nós, suas criaturas.

Portanto, leia e reflita esse sermão de Spurgeon. Pode parecer careta e ultrapassado para o mundo pós-secular ou pós-moderno, mas fará muito sentido depois que tratarmos este assunto com mais detalhes e nuanças dentro do contexto cristão ou evangélico do momento. No final da leitura tente refletir na perspectiva de Deus, não na sua. E talvez entenderá um pouco mais desta realidade:

Apascentando ovelha ou entretendo bode?

Um mal acontece no arraial professo do Senhor, tão flagrante na sua impudência, que até o menos perspicaz dificilmente falharia em notá-lo. Este mal evoluiu numa proporção anormal, mesmo para o erro, no decurso de alguns anos. Ele tem agido como fermento até que a massa toda levede. O demônio raramente fez algo tão engenhoso, quanto insinuar à Igreja que parte da sua missão é prover entretenimento para o povo, visando alcançá-los. De anunciar em alta voz, como fizeram os puritanos, a Igreja, gradualmente, baixou o tom do seu testemunho e também tolerou e desculpou as leviandades da época. Depois, ela as consentiu em suas fronteiras. Agora, ela as adota sob o pretexto de alcançar as massas. Meu primeiro argumento é que prover entretenimento ao povo, em nenhum lugar das Escrituras, é mencionado como uma função da Igreja. Se fosse obrigação da Igreja, porque Cristo não falaria dele? "Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura" (Lc.16:15). Isto é suficientemente claro. Assim também seria, se Ele adicionasse "e provejam divertimento para aqueles que não tem prazer no evangelho". Tais palavras, entretanto, não são encontradas. Nem parecem ocorrer-Lhe. Em outra passagem encontramos: "E Ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres"(Ef.4:11). Onde entram os animadores? O Espírito Santo silencia, no que se refere a eles. Os profetas foram perseguidos por agradar as pessoas ou por oporem-se a elas? Em segundo lugar, prover distração está em direto antagonismo ao ensino e vida de Cristo e seus apóstolos. Qual era a posição da Igreja para com o mundo? "Vós sois o sal da terra" (Mt.5:13), não o doce açúcar – algo que o mundo irá cuspir, não engolir. Curta e pungente foi a expressão: "Deixa aos mortos o sepultar os seus próprios mortos"(Mt.8:22). Que seriedade impressionante!Cristo poderia ter sido mais popular, se tivesse introduzido mais brilho e elementos agradáveis a sua missão, quando as pessoas O deixaram por causa da natureza inquiridora do seu ensino. Porém, eu não O escuto dizer: "Corre atrás deste povo Pedro, e diga-lhes que teremos um estilo diferente de culto amanhã; algo curto e atrativo, com uma pregação bem pequena. Teremos uma noite agradável para eles. Diga-lhes que, por certo, gostarão. Seja rápido, Pedro, nós devemos alcançá-los de qualquer jeito!". Jesus compadeceu-se dos pecadores, lamentou e chorou por eles, mas nunca pretendeu entretê-los. Em vão as epístolas serão examinadas com o objetivo de achar nelas qualquer traço do evangelho do deleite. A mensagem que elas contêm é: "Saia, afaste-se, mantenha-se afastado!"Eles tinham enorme confiança no evangelho e não empregavam outra arma. Depois que Pedro e João foram presos por pregar o evangelho, a Igreja reuniu-se em oração, mas não oraram: "Senhor, permite-nos que pelo sábio e judicioso uso da recreação inocente, possamos mostrar a este povo quão felizes nós somos". Dispersados pela perseguição, eles iam por todo mundo pregando o evangelho. Eles "viraram o mundo de cabeça para baixo". Esta é a única diferença! Senhor, limpe a tua Igreja de toda futilidade e entulho que o diabo impôs sobre ela e traze-a de volta aos métodos apostólicos. Por fim, a missão do entretenimento falha em realizar o objetivo a que se propõe. Ela produz destruição entre os jovens convertidos. Permitam que os negligentes e zombadores, que agradecem a Deus porque a Igreja os recebeu no meio do caminho, falem e testifiquem! Permitam que falem os negligentes e zombadores, que foram alcançados por um evangelho parcial; que falem os cansados e oprimidos que buscaram paz através de um concerto musical. Levante-se e fale o bebado para quem o entretenimento na forma de drama foi um elo no processo de sua conversão! A resposta é óbvia: a missão de promover entretenimento não produz convertidos verdadeiros. O que os pastores precisam hoje, é crer no conhecimento aliado a espiritualidade sincera; um jorrando do outro, como fruto da raiz. Necessitam de doutrina bíblica, de tal forma entendida e experimentada, que ponham os homens em chamas.

Autor: Charles Spurgeon

Nenhum comentário: